Vida e Carreira

Demorei muito tempo para entender o que realmente queria fazer da minha vida. Algumas pessoas dizem que as descobertas vêm no tempo certo. Eu prefiro acreditar que cada um tem seu próprio tempo — e o meu, embora cheio de curvas e desvios, me trouxe exatamente até aqui.

Durante muitos anos, vivi em busca de algo que eu nem sabia ao certo o que era. Às vezes achava que sabia, mas logo surgia aquela voz interna dizendo que talvez não fosse possível. Que talvez não fosse pra mim. Era como caminhar na direção de um horizonte que sempre se mantinha distante. Quanto mais eu andava, mais ele recuava. E essa sensação de inquietude me acompanhava, silenciosa, mas constante.

Sempre separei trabalho e vida pessoal como se fossem mundos distintos. Trabalhar era uma necessidade, uma obrigação. Viver, por outro lado, era o espaço reservado para os meus hobbies — a música, o desenho, a pintura. As artes sempre foram meu refúgio, meu modo de respirar.

Até que, em janeiro de 2024, fui demitido. E com isso veio uma ruptura, mas também uma chance. Tentei seguir por caminhos diversos, buscando uma carreira que me trouxesse aquilo que eu sempre almejei: propósito, liberdade, expressão. A fotografia, que antes era apenas uma paixão, passou a ser minha companheira de jornada. E como em todo novo começo, eu me cobrei. Achei que precisava me destacar, ser excelente, transformar aquilo em sucesso. O que antes era prazer, agora era responsabilidade.

Trabalhei com minha esposa por um tempo. Aprendi muito na empresa dela, absorvi experiências valiosas. Mas havia dentro de mim uma inquietação, uma necessidade de criar algo que fosse meu. Eu queria, precisava, viver a experiência empreendedora. Ser dono do meu próprio caminho.

Foi nesse processo que descobri o Empretec, um curso do Sebrae que acabou sendo um divisor de águas. Ali, enfrentei espelhos difíceis, enxerguei comportamentos, reconheci forças e limites. Percebi, com sinceridade, que eu não tinha, naturalmente, o chamado “perfil empreendedor”. Mas descobri também que perfil não é destino. Que comportamentos podem ser ajustados, aprendidos, transformados.

Ainda assim, algo seguia faltando. Havia uma peça ausente, algo mais profundo, mais essencial.

Em 2025, depois de um ano de tentativas, erros, acertos e angústias, tomei uma decisão que mudou tudo: contratei uma mentora de carreira. Alguém que pudesse me orientar, me guiar — ou, como costumo dizer, alguém que pegasse na minha mão como se eu fosse uma criança aprendendo a andar. E foi exatamente isso que ela fez.

Logo no primeiro encontro, Nathalia Aoão me disse algo que nunca mais vou esquecer:
“Sua carreira é sua vida. Não dá pra separar uma coisa da outra.”

Aquilo me atingiu em cheio. Foi como se uma cortina tivesse sido aberta. Naquele instante, entendi o que sempre esteve ali, mas que eu insistia em esconder. Eu sou artista plástico. Sempre fui. Só faltava coragem para assumir. Faltava coragem para sair do armário — sim, o armário criativo, o da identidade profissional.

E foi ela quem me puxou de lá. Literalmente me arrancou pela barba e me trouxe à luz.

Durante o processo de mentoria, recebi um convite inesperado: voltar para a empresa onde trabalhei por quatorze anos. Refletimos juntos sobre essa possibilidade, e concluímos que sim, havia sentido retornar. Mas com uma única condição: que, de agora em diante, quando alguém me perguntasse o que eu faço da vida, eu tivesse a resposta pronta, sem hesitar, sem me esconder.

“Sou artista plástico.”

Porque é isso que eu sou. Com todas as cores, camadas e texturas que carrego comigo.

Essa jornada ainda está em curso. Ainda tropeço, ainda tenho dúvidas. Mas agora caminho com mais consciência. E com a certeza de que o horizonte pode continuar distante — mas é caminhando com verdade que a paisagem ao redor ganha beleza e sentido.