O início de tudo

A arte faz parte da minha vida desde que me entendo por gente. Mas isso não significa que o caminho foi fácil. Houve momentos em que desisti, em que realmente acreditei que jamais teria a chance de me expressar através das minhas telas.

Na infância, meu único incentivo vinha do meu pai. Lembro-me de observá-lo concentrado sobre sua mesa de trabalho, criando projetos arquitetônicos. De vez em quando, ele desenhava retratos de familiares e amigos, e aquilo me fascinava. Ele era minha maior referência.

Mas tudo mudou quando ele saiu de casa. O que antes era inspiração virou ausência. E os sonhos que eu cultivava foram se dissipando como fumaça. Aquilo — a arte — passou a parecer inalcançável.

Cresci. Trabalhei em diferentes empregos. De vez em quando surgia algum pedido de desenho, um projeto aqui, outro ali, mas tudo sempre parecia frio, distante do que um dia imaginei para mim.

Cheguei a conseguir um emprego em uma editora, onde ilustrei alguns livros. Foi uma experiência importante, mas no fundo eu sentia que aquilo também não era meu lugar. Eu já não acreditava que algum dia seria.

A música, então, se tornou meu consolo. Foi ela quem me acolheu. Uma espécie de pai que me ensinou com paciência, que me mostrou caminhos. Aprendi tudo o que pude. Passei a achar que o desenho e a pintura não eram para mim.

Mas o tempo, às vezes, é surpreendente. Em um momento inesperado, como se algo brotasse de dentro, peguei um papel e um lápis. Desenhei, sem intenção. Como se fosse um surto, uma recaída, um sonho antigo batendo à porta.

Minha esposa, que é mais do que minha parceira — é minha maior incentivadora — viu aquele desenho. E, com o brilho nos olhos que só ela tem, me pediu para emoldurá-lo. Foi o meu primeiro quadro.

O Piano da Suzana e o meu Violoncelo

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