Desde que comecei a pintar, fui compartilhando meus trabalhos nas redes sociais. No início, sem grandes pretensões — era apenas uma forma de mostrar ao mundo aquilo que eu estava criando, quase como um diário visual. Mas, com o tempo, algo começou a mudar dentro de mim. Veio aquela inquietação, aquela vontade de dar um passo além. Eu sentia que estava na hora de buscar algo mais sério, mais concreto, mais comprometido com o meu desejo de viver da arte.
Comecei a pesquisar sobre o mercado de arte, tentando entender como funcionava, como artistas conseguiam espaço, visibilidade, reconhecimento. E a verdade, nua e crua, logo me apareceu: tudo dependia única e exclusivamente de mim. Não havia atalhos. Ninguém ia bater à minha porta com um convite milagroso. Eu teria que correr atrás, me movimentar, me expor.
Passei a ouvir muitos podcasts sobre arte. Alguns inspiradores, outros brutalmente sinceros. Um deles me marcou: “Ninguém vai te convidar pra fazer uma exposição”, diziam. Em um livro, li uma frase ainda mais dura: “Ninguém quer ver suas merdas”. Essas palavras ficaram ecoando dentro de mim. Machucavam, sim. Mas, de alguma forma, também me provocavam. Me faziam querer provar o contrário.
Ao mesmo tempo, muitos diziam que, para vender, eu precisaria me divulgar — e as redes sociais seriam minhas maiores aliadas. Mas aí vinha outro alerta: o algoritmo podia jogar contra mim se eu não soubesse usá-lo. Era como se, a todo momento, me dissessem que eu estava em desvantagem. Não havia incentivo. Muito pelo contrário: era como se tudo e todos dissessem que eu estava sozinho.
Então me perguntei: se ninguém vai me convidar, se ninguém quer ver o que eu produzo, e se o algoritmo não vai me ajudar… o que me resta fazer?
A resposta veio da forma mais simples e honesta possível: fazer o que estava ao meu alcance. Sem me importar com julgamentos, sem seguir fórmulas, sem grandes estratégias. Apenas produzir e postar. Produzir feito louco. Postar feito louco. E foi isso que fiz.
Comecei a compartilhar meu processo, minhas dúvidas, minhas pequenas vitórias e até os fracassos. Produzia intensamente, experimentava, errava, acertava. E, de vez em quando, alguém comprava. Às vezes, um desconhecido. Isso era combustível. E eu continuava. Ainda continuo.
Até que, um certo dia, meu celular tocou. Era o escritor Esio Pezato, de Piracicaba. Ele é também colecionador de arte e, na época, diretor da Casa do Povoador — um espaço dedicado à exposição de artes plásticas. Ele me disse que conhecia meu trabalho pelas redes sociais e me fez um convite que parecia sonho: queria que eu fizesse uma exposição individual. Perguntou se eu tinha cerca de 40 obras prontas para preencher o espaço. Na hora, sem hesitar, respondi que sim. Mas a verdade é que eu só tinha uns quinze quadros.
Desliguei o telefone e pensei: agora é pra valer. Em dois meses, produzi mais de vinte novas obras. Foi intenso. Físico. Emocional. Mas consegui. Em 2023, realizei minha primeira exposição individual. Não foi sorte. Foi trabalho. Foi persistência. Foi ir na contramão de tudo o que me diziam.
Hoje entendo que não existe fórmula, nem mapa, nem receita de bolo. O caminho é feito andando. E o resultado não vem até você — é você quem precisa ir até ele.
Se me perguntarem qual é o segredo, eu respondo com toda a verdade que aprendi nesse percurso: só faça.