Ilustrar é Sentir: Quando a Imagem Conta a História
Não conheço um universo mais fascinante e livre do que o da ilustração. Para mim, é nesse espaço entre o traço e a imaginação que mora a verdadeira liberdade criativa. Ilustrar não é apenas desenhar — é traduzir sentimentos, dar corpo a emoções, interpretar o que está nas entrelinhas de uma história.
Quando se trata de ilustrar um livro, esse mergulho é ainda mais profundo. Não dá para criar algo verdadeiro sem conhecer o conteúdo de cabo a rabo. É preciso ler, reler, sentir o texto. Só assim é possível entregar um trabalho com alma, daqueles que realmente tocam quem vê. Eu não consigo imaginar outro jeito de fazer isso com excelência: é preciso fazer parte de todo o processo de criação, como quem constrói uma casa com as próprias mãos.

Muitas vezes, nem mesmo a autora sabe exatamente o que quer transmitir — e isso inclui quando a autora sou eu. É aí que entra o olhar sensível do ilustrador, que capta o que está além das palavras, identifica o sentimento, compreende o contexto. Ilustrar é mais do que embelezar. É revelar.
Um livro, pra mim, é como uma tatuagem: uma marca permanente, uma ideia que se eterniza. E com isso vem uma responsabilidade enorme. A imagem que acompanha a palavra não é passageira — ela fica. E precisa fazer sentido, precisa pulsar junto com o texto.
Essa é a primeira vez que escrevo algo inteiramente meu, e claro, decidi ilustrar meu próprio livro. Está sendo uma experiência nova, intensa, apaixonante. Descobri que existe aqui uma linguagem diferente, que não é apenas estética: é uma interpretação visual da narrativa. É como dar um segundo fôlego à história — não com palavras, mas com imagens.

Sempre acreditei que o auge de uma boa ilustração é quando ela consegue se comunicar sozinha. Imagine um livro feito apenas de imagens e, mesmo assim, o leitor entende tudo — o clima, o mistério, o sentimento. Isso é o poder da ilustração. Ela informa, contextualiza, provoca, emociona. É um jeito de mostrar o mundo com outras lentes.
O caminho para se tornar ilustrador pode parecer mágico, mas nem sempre é simples. Às vezes, ele começa de forma inconsciente, natural, quase inevitável. Muitas pessoas desenham desde crianças, como se fosse parte do que são. Em outros casos, é a persistência que desenha o trajeto: estudo, tentativa, erro, técnica, aprimoramento. Ambos os caminhos são válidos. Ambos revelam artistas.
A verdade é que, na maioria das vezes, ser ilustrador não é uma escolha racional. É uma vocação. É um chamado. E quando ele vem, a gente simplesmente atende — com lápis na mão e olhos atentos ao que ainda não foi dito.