Que palavra bonita e elegante: Pleinair. Em francês, quer dizer “ao ar livre”. Mas não é apenas uma definição — é uma sensação, uma entrega, uma imersão quase espiritual na natureza. Pintar ao ar livre é mais do que uma técnica, é um estado de presença absoluta. É estar com todos os sentidos atentos, conectados com o mundo ao redor. Luz, sombra, cores, valores. Nada está parado. Tudo respira, se move, se transforma diante dos nossos olhos.
A jornada começa cedo. O despertador toca e o coração já desperta junto com ele, ansioso. Hora de checar os pincéis, as tintas, os cavaletes. Um café gostoso, que aquece o corpo e prepara a alma. No grupo de WhatsApp, as primeiras mensagens do dia surgem — somos um grupo unido por essa paixão, e é justamente isso que torna tudo ainda mais especial. Pintar junto é dividir silêncios, observações e descobertas. É aprender e ensinar sem que ninguém precise dizer uma só palavra.
A saída é sempre acompanhada daquela pontinha de expectativa. Será que o céu vai ajudar? Que paisagem vamos encontrar? Às vezes já conhecemos o local, outras vezes não. Mas sempre existe o imprevisível — e é justamente ele que nos move. Nada se compara à emoção de chegar diante daquela imensidão verde, viva, pulsante. Cada árvore, cada curva do terreno, cada sombra projetada traz uma nova história a ser contada pela tinta e pelo olhar de quem pinta.
A natureza é nossa maior mestra e, ao mesmo tempo, nosso maior desafio. Ela nunca está igual. O sol muda de lugar, as nuvens dançam, a luz se move rapidamente, os mosquitos aparecem, o calor castiga. E o tempo? Ah, ele voa. Quando percebemos, o dia já se foi. E mesmo com tantas distrações, seguimos ali, firmes — porque adoramos essa entrega total, essa batalha deliciosa entre o olhar e o pincel.

O resultado final? Ele tem seu valor, claro. Mas, no fundo, sabemos que o mais precioso de tudo é o caminho percorrido até ele. Cada pincelada carrega uma memória, um instante, um sentimento. Ao fim do dia, voltamos para casa com as mãos cansadas, talvez sujas de tinta, mas com o coração leve, preenchido por boas conversas, aprendizados e vivências que nenhum ateliê fechado pode oferecer.
É uma verdadeira via sacra, em que o momento glorioso não está só no fim, mas se estende do começo ao fim da jornada. A obra é importante, sim — mas o processo é onde mora a verdadeira arte. Pintar ao ar livre é se reconectar com a essência do mundo, com a beleza das coisas simples, com o cheiro do mato, o canto dos pássaros, o som do vento.
E por mais que nada disso caiba, literalmente, numa tela, tudo isso está ali, invisível, embutido em cada cor, em cada linha, em cada traço. Porque essa, talvez, seja uma das mais belas obras de Deus: a possibilidade de vivermos com sensibilidade, atentos ao mundo e ao instante presente.