Pintura, Desenho e Fotografia

Desenho tem que parecer desenho. Pintura tem que parecer pintura.
Quando damos atenção demais aos detalhes, corremos o risco de apagar o grande significado da coisa toda. Se é arte, se é prazer, que seja com prazer que se faz.
Por isso, o pior elogio que um artista pode receber é: “Nossa, parece uma foto!” Isso não é elogio. É quase uma ofensa. A fotografia veio depois. Antes dela, era a pintura que capturava o mundo. E não para ser uma cópia — mas uma interpretação.

Uma breve história da fotografia
A fotografia nasceu do desejo humano de fixar imagens da realidade. Sua origem remonta à câmara escura, conhecida desde a Antiguidade — um dispositivo que projetava imagens por um pequeno orifício. Mas foi só no século XIX que se tornou possível registrar e preservar essas imagens.

Em 1826, o francês Joseph Nicéphore Niépce produziu a primeira fotografia permanente, usando uma placa de estanho coberta com betume — um processo que exigia horas de exposição à luz. Pouco depois, Louis Daguerre aperfeiçoou a técnica com o daguerreótipo, que reduzia esse tempo e marcou o início da fotografia comercial em 1839.

Na Inglaterra, William Henry Fox Talbot desenvolveu o calótipo, que introduziu o negativo — permitindo a reprodução de cópias de uma mesma imagem, algo impossível no daguerreótipo.

Durante o século XX, vieram os filmes mais sensíveis, as câmeras portáteis (como a icônica Kodak de George Eastman) e a fotografia em cores. Ela se tornou uma linguagem universal — presente na arte, na ciência, no jornalismo e na vida cotidiana.

Nos anos 1990, a revolução digital virou o jogo: sensores substituíram o filme, celulares passaram a registrar o mundo e as redes sociais deram novo sentido ao ato de fotografar. Não se fotografa mais só para guardar, mas para compartilhar, reagir, existir online.

De técnica rara à linguagem cotidiana, a fotografia se democratizou. Mas seu poder segue intacto: capturar um instante e torná-lo eterno.

Referências:
Newhall, Beaumont. História da Fotografia. Tempo Brasileiro, 1983.

Frizot, Michel (org.). Nova História da Fotografia. Cosac Naify, 2007.

Rosenblum, Naomi. Uma História da Fotografia. Senac, 2002.

Fontcuberta, Joan. A Câmera de Pandora. Gustavo Gili, 2014.

MASP – masp.org.br

Eastman Museum – eastman.org

International Center of Photography – icp.org

E antes da fotografia? Veio a pintura.
A pintura é uma das formas mais antigas de expressão humana. Surgiu nas cavernas pré-históricas, como em Lascaux, onde nossos ancestrais registravam cenas de caça com pigmentos naturais — uma mistura de arte, rito e comunicação.

Ao longo da história, a pintura acompanhou a humanidade: no Egito, na Grécia e em Roma, servia para contar histórias e exaltar deuses. Na Idade Média, tornou-se religiosa, preenchendo igrejas com ícones e afrescos.

No Renascimento, artistas como Leonardo da Vinci, Michelangelo e Rafael revolucionaram a arte com perspectiva, proporção e emoção. Nos séculos seguintes, vieram o Barroco, o Rococó, o Neoclassicismo — sempre refletindo as tensões entre arte, poder e sociedade.

No século XIX, os Impressionistas (como Monet) romperam com as regras acadêmicas, capturando a luz e os instantes da vida. Já o século XX foi palco de rupturas e experimentações: Cubismo, Expressionismo, Surrealismo, Abstracionismo — todos questionando o que é pintar, o que é representar.

Hoje, a pintura dialoga com o muralismo urbano, o digital, o NFT, mas sua essência resiste: transformar cor, forma e gesto em linguagem.

Então, da próxima vez que quiser elogiar um desenho, diga que ele parece… um desenho.
Se quiser elogiar uma pintura, diga que ela pulsa como pintura.
E, se quiser dizer que algo parece uma fotografia, direcione isso a quem merece: um fotógrafo.
Afinal, cada linguagem tem sua beleza — e sua verdade. Mas, sequiser ser acertivo num elogio, diga a um fotógrafo que seu trabalho se parece com uma pintura.

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