“Quanto tempo você leva para terminar uma pintura?”
Essa é, sem dúvida, uma das perguntas que mais ouço. E a resposta é simples — ou talvez nem tanto. Depende. Depende do tamanho da tela, da complexidade do tema, do tipo de referência usada e, principalmente, do ambiente onde estou pintando.
Pintar ao ar livre, por exemplo, é um exercício de urgência. A luz muda o tempo todo, os mosquitos aparecem como se tivessem sido convidados, e o sol não perdoa. Nessas condições, não dá para enrolar. É preciso capturar a essência da cena com rapidez, com olhos atentos e pincel decidido.
Pinturas rápidas, pinceladas certeiras
Uma tela de 30×40 cm, em média, levo cerca de uma hora para finalizar. Se for um tema mais fora da minha zona de conforto ou que exija mais estudo, talvez duas horas. Mas gosto de pintar rápido. Não por pressa, mas por gosto mesmo. Não sou do tipo que se perde nos detalhes — meu prazer está em resolver a pintura com gestos livres, cores precisas e composição bem definida.
Já aconteceu, inclusive, de terminar um trabalho em exatos três minutos. Foi um estudo rápido, um sketch pintado num impulso, mas que, de alguma forma, capturou exatamente o que eu queria dizer.

A escola da velocidade
Muito do que desenvolvi em termos de agilidade devo ao meu mestre, Alexandre Reider. Seu método de ensino é direto, intenso e extremamente eficiente. Nas aulas, ele realiza uma demonstração de 10 a 15 minutos, onde finaliza uma tela diante dos alunos. Em seguida, temos pouco tempo para produzir nossas próprias versões.
Durante as imersões — três dias, quatro horas por dia — o ritmo é ainda mais puxado. Somos desafiados a pintar três telas por dia. Sim, três. Parece loucura, e é mesmo. Mas é uma loucura maravilhosa.
Lembro bem da primeira vez que fui para São Paulo fazer o curso. No primeiro dia, fiquei completamente impactado. Foi como levar um soco artístico. Mas no segundo dia, algo mudou. Comecei a entender a proposta, entrei no ritmo e, para minha surpresa, passei a gostar da intensidade. Era como se eu tivesse encontrado uma linguagem que fazia sentido para mim.
Nem sempre é rápido
Claro, nem todo trabalho pode (ou deve) ser feito em ritmo acelerado. Recentemente, por exemplo, recebi uma encomenda de uma tela de 80×120 cm. Nesse caso, levei alguns dias para finalizar. A dimensão da obra, o tema e a expectativa do cliente exigiam mais tempo, mais camadas e mais silêncio entre uma pincelada e outra.
E tudo bem. O importante é entender que cada obra tem seu tempo — algumas nascem no calor do instante, outras precisam amadurecer devagar.
Alla Prima: paixão à primeira pincelada
A técnica que mais me define, sem dúvida, é o Alla Prima — expressão italiana que significa “de primeira”. É uma forma de pintar direto, sem grandes correções ou repinturas, onde tudo precisa ser resolvido enquanto a tinta ainda está fresca. É uma técnica que exige coragem, presença e muita prática.
Alla Prima é amada por poucos e odiada por muitos, justamente por essa exigência de entrega total. Mas eu? Eu amo. Amo a espontaneidade do processo, a liberdade do gesto, a verdade que aparece quando não há tempo para duvidar.
É mais do que uma técnica. É uma filosofia. É pintar com o coração na ponta do pincel, com a mente afiada e a alma entregue.
Se você também pinta, experimenta ou admira o processo artístico, sabe que o tempo da pintura não se mede apenas em minutos ou horas. Ele se mede em decisões, em intenções, em experiências.
E cada tela, seja feita em três minutos ou em três dias, carrega um pouco da nossa história — e isso, no fim, é o que realmente importa.
A cada texto que leio, me impressiono mais com suas expressões. É tão interessante acompanhar os bastidores. Não pare de compartilhar.