Essa parece ser uma pergunta simples. Mas é dessas que carregam camadas e mais camadas de significado, principalmente quando falamos sobre ir além daquilo que esperávamos de nós mesmos. Ultrapassar limites, romper ciclos, deixar de apenas pertencer a um grupo para criar o seu próprio. Não é mais sobre seguir uma trilha, é sobre abrir caminho com os próprios passos.
Você já ouviu aquele ditado: “Dois leões não podem ocupar o mesmo lugar na montanha”? Pois é. Um deles precisa decidir o que fazer. Mas, a verdade é que o outro também. E assim nasce o impasse — silencioso, tenso, quase um duelo invisível. Um tipo de impasse mexicano em que ninguém saca a arma, mas ambos sabem que ela está ali.
Se me perguntassem o que eu faria, eu diria: “Eu fico na montanha.” Assumo o risco. Porque ficar, muitas vezes, é mais corajoso do que ir embora. Qual a pior coisa que poderia me acontecer? Sair machucado? Abalado? Ter que recomeçar de um ponto mais abaixo?
Sim. E foi exatamente isso que aconteceu. Mas eu decidi não apenas permanecer. Decidi subir mais alto. Decidi não ficar estagnado, mesmo que isso incomodasse os outros, mesmo que ferisse o ego alheio, mesmo que abalasse até amizades. Porque crescer é um movimento solitário, por mais coletivo que pareça.

Talvez você pense: “Por que não convidar o outro leão a subir junto? Ou deixá-lo ir na frente, desbravando?” Seria nobre, claro. Mas a natureza não funciona assim. No mundo selvagem — e no íntimo das pessoas — o instinto de sobrevivência fala mais alto. A necessidade de proteger território, identidade, poder. E, às vezes, simplesmente não há espaço para dois.
A gente precisa seguir. E seguir, inevitavelmente, causa desconforto. Porque crescer é também, muitas vezes, um ato de confronto. Não com os outros, mas com aquilo que eles projetam em você. E aí vem a culpa — aquela sensação de que você está sendo egoísta, ousado demais, grande demais para o espaço que antes te servia.
Mas quer saber? Esse sentimento não te pertence. Ele é do outro. Não precisamos nos desculpar por fazer o que precisa ser feito. Por crescer. Por mudar. Por assumir quem somos.
Você é um leão quando sente que é. Não porque alguém te nomeia, mas porque o rugido nasce dentro de você. É natural. Tão natural quanto o salto de um cervo quando se sente ameaçado. Tão natural quanto a chuva que chega sem aviso e deixa as folhas do campo com aquele brilho delicado de orvalho. Tão inevitável quanto o florescer de uma flor em meio ao caos.
É um processo de beleza e destruição. De paz e ruptura. Porque ser quem se é, de verdade, exige coragem para ser flor — mas também para ser ciclone. Para devastar cenários internos, reconstruir territórios e criar, do zero, uma nova atmosfera. Uma nova realidade.
É até aí que devemos ir.
Até onde o instinto nos leva. Até onde o coração pulsa com verdade.
Até onde é preciso ser — mesmo que doa.