O que aprendi com o Sketchbook

“Pintura é sugestão.”
Ouvi essa frase de um mestre e ela nunca mais saiu da minha cabeça. Pintar é abrir espaço para o olhar do outro, permitir que quem vê complete a imagem com suas próprias emoções. Não é sobre reproduzir, é sobre evocar.

O impressionismo, por exemplo, surgiu não como um título nobre, mas como uma crítica. Foi chamado assim de forma pejorativa por quem não entendia — ou não queria entender — aquele novo jeito de ver o mundo. Um estilo que distorcia as formas para mostrar a essência. E hoje, ironicamente, é uma das maneiras mais fascinantes de olhar para a vida: com leveza, cor e emoção.

Sempre me encantou esse poder de enxergar algo onde, aparentemente, não há nada definido. Uma mancha, uma sombra, uma pincelada solta que carrega toda a atmosfera de uma cena. É o tipo de pintura que não entrega tudo — ela convida à descoberta. E isso muda completamente o nosso jeito de observar.

Algumas vezes por ano, vou até São Paulo para vivenciar isso mais de perto. No Plein Air Studio, participo de aulas com Alexandre Reider, um dos grandes nomes da pintura de paisagem no Brasil. Foi lá que conheci o curso Sketch Series, que mudou minha forma de criar.

Como venho do desenho realista e sou retratista, demorou para eu me desprender da ideia de que “qualidade” era sinônimo de perfeição. Mas quando mergulhei na proposta do sketchbook — esse caderno de estudos livres, onde o gesto vale mais que o detalhe — me senti leve. Era possível fazer um trabalho de alto nível sem se prender aos acabamentos. Pintar se tornou ainda mais prazeroso.

Entendi que o sketchbook é uma ferramenta de afinação do olhar. Ele nos treina para perceber o que a foto não mostra: o frescor do fim de tarde, o calor da luz, a densidade do ar. Pintar assim é um exercício de presença. Você não precisa concluir uma obra — o cenário se constrói na mente, como um esboço que continua vivo mesmo depois de guardado.

E o mais incrível: tudo isso pode ser feito em pouco tempo. É rápido, intenso, transformador. Um momento de estudo que se torna também experiência estética. Um treino diário que abre caminhos para a criação verdadeira.

Hoje, acredito que uma pintura pode ser avaliada por muitos critérios — composição, técnica, equilíbrio. Mas aquilo que realmente conta é o que transborda. O que toca. O que não se explica, só se sente. E isso, definitivamente, não tem preço.

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