Estudos, Vivências e Trabalho

Durante muito tempo, como artista autodidata, eu produzia trabalhos que, embora tivessem algum valor estético, careciam de fundamentos técnicos sólidos. Eu criava com paixão, mas sem compreender profundamente elementos como perspectiva, atmosfera, profundidade, composição, uso de cor e luz. Tudo era feito com base na intuição. E, por mais que a intuição seja valiosa, ela sozinha não sustenta a evolução de um artista.

Essa realidade começou a mudar quando decidi estudar. A partir desse momento, minha visão sobre a arte — e principalmente sobre o meu próprio processo — transformou-se completamente. Comecei a entender que dominar a técnica não diminui a espontaneidade, pelo contrário: ela amplia as possibilidades criativas, permitindo que escolhas sejam feitas com consciência.

Ser autodidata tem seu valor e, de certo modo, é algo que nos torna únicos. Às vezes, conseguimos aplicar técnicas de forma intuitiva, mesmo sem entender exatamente como ou por que funcionaram. E isso, embora pareça mágica, também é um risco: podemos repetir acertos sem saber como os alcançamos — ou pior, repetir erros sem entender por que algo não deu certo. Estudar nos dá clareza. A técnica é a ferramenta que nos ajuda a diagnosticar o que funciona e o que não funciona em nossa arte. Ela nos prepara para experimentar com mais segurança e ousadia, mesmo quando os resultados não são os esperados.

A arte é, acima de tudo, um campo de investigação. Uma ciência poética que merece ser experimentada, mas também compreendida. Não se trata apenas de pintar quadros bonitos, mas de mergulhar num universo de possibilidades visuais, emocionais e técnicas.

Hoje, com a quantidade de cursos online disponíveis — muitos deles gratuitos —, estudar pintura tornou-se mais acessível do que nunca. Não é mais necessário sair de casa para ter acesso a conhecimento de qualidade. Porém, acredito que o aprendizado vai além da sala de aula virtual. Se você realmente quer evoluir como artista, precisa buscar uma vivência artística mais profunda.

Conviver com outros artistas é um passo essencial. A troca de ideias, os conselhos, as experiências compartilhadas… tudo isso é aprendizado. Muitas vezes, conseguimos antecipar nossos próprios erros apenas ouvindo como outros lidaram com os desafios do processo criativo. Frequentar um ateliê, por exemplo, pode ser uma excelente forma de começar. Foi assim que conheci artistas incríveis e fiz amizades que influenciaram diretamente minha jornada. A paixão pelo estudo e pela pintura é algo que se percebe no brilho dos olhos e na força das obras daqueles que vivem essa realidade.

Gosto especialmente de conviver com estudantes de pintura. E aqui faço uma distinção importante: para mim, estudantes são diferentes de simples alunos. Alunos costumam pintar apenas nas aulas, dentro dos limites do ateliê. Estudantes, por outro lado, vivem a pintura. Eles saem da aula e continuam pintando, pesquisando, observando, experimentando. Estudantes não esperam que o conhecimento venha até eles — eles vão atrás.

E se você deseja realmente evoluir, é preciso ir a campo. É preciso sair do estúdio, observar o mundo com olhos atentos, entender como a luz muda ao longo do dia, como as cores se comportam nas diferentes estações, como o ser humano se move e se expressa. O artista que observa o mundo com curiosidade constante tem mais ferramentas para interpretá-lo com sensibilidade e profundidade.

A arte é uma jornada sem fim. Uma estrada que se trilha com estudo, prática e, acima de tudo, vivência. Aprender a pintar é aprender a ver — e quanto mais você vê, mais percebe o quanto ainda há para aprender. E isso é o que torna a arte tão fascinante.

1 comentário em “Estudos, Vivências e Trabalho”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima
× Vamos conversar?