As primeiras expressões

Minha trajetória com a pintura começou de forma simples, mas carregada de significado. Ainda na adolescência, fui apresentado ao universo da arte por um amigo que fazia aulas de pintura. Foi ele quem me ofereceu, generosamente, uma tela usada e algumas tintas que haviam sobrado. Para muitos, poderia parecer algo sem importância. Para mim, foi o início de uma jornada transformadora.

Sem técnica, mas com curiosidade, comecei a explorar aquele novo território. Pintava, observava, apagava e começava de novo. Esse processo de tentativa e erro se repetiu inúmeras vezes, e foi assim que comecei a entender os caminhos da pintura. Esse amigo também me passou alguns fundamentos básicos que se tornaram preciosos para mim. Infelizmente, o tempo levou com ele o nome desse primeiro mentor, mas não apagou a gratidão que sinto até hoje. Ele plantou uma semente que só viria a florescer anos depois.

Com o passar do tempo, a vida tomou outros rumos, e a arte acabou sendo deixada de lado. As obrigações do cotidiano, as prioridades da vida adulta e os caminhos profissionais me afastaram dos pincéis. No entanto, durante a pandemia, como aconteceu com tantas outras pessoas, fui levado a revisitar antigos interesses e paixões esquecidas. O isolamento me colocou frente a frente comigo mesmo, e foi nesse reencontro que a pintura ressurgiu, com força e propósito. Redescobrir a arte foi, sem exageros, como reencontrar uma parte de mim que estava adormecida. A pintura preencheu um vazio que eu nem sabia que existia.

Movido por essa nova energia, decidi estudar de forma mais séria. Encontrei na escola Nova Arte um espaço acolhedor e enriquecedor, onde estudei por dois anos sob a orientação de Marcel Guerreiro, um mestre na pintura de paisagens ao ar livre (plein air) e na natureza morta. Marcel não apenas ensinava técnicas; ele transmitia sensibilidade, respeito à observação e um amor genuíno pela prática artística. As experiências no ateliê foram fundamentais, mas minha dedicação ia além: estudava em casa quase todos os dias, preenchendo sketchbooks com estudos, ideias, tentativas. Muitas das telas que produzi nesse período acabaram sendo vendidas — um sinal de que minha arte começava a tocar outras pessoas.

Um dos momentos mais marcantes da minha trajetória foi o convite para realizar uma exposição individual na Casa do Povoador, em Piracicaba. Minhas obras ficaram expostas por um mês e meio, e essa experiência foi profundamente emocionante. Ver meu trabalho reconhecido e compartilhado com o público foi algo que me deu ainda mais certeza de que esse era o caminho certo.

Após essa fase, segui ampliando meus horizontes com novos estudos, desta vez com Alexandre Reider, no Pleinair Studio. Suas aulas trouxeram novos desafios, técnicas refinadas e uma visão mais profunda da pintura ao ar livre. A cada etapa, percebo o quanto ainda há para aprender — e essa é, justamente, uma das belezas da arte: ela nunca se esgota. Sigo caminhando, estudando, pintando, observando o mundo com olhos cada vez mais atentos. Não tenho tempo para desistir, porque a arte me chama todos os dias.

Hoje, posso dizer com orgulho que sou um pintor profissional. Trabalho com diversas linguagens e materiais: tinta a óleo, aquarela, grafite e carvão. Cada técnica carrega sua própria personalidade, seu próprio tempo e suas exigências. Amo todas elas. Pintar não é apenas meu ofício; é minha forma de estar no mundo, de interpretar a realidade, de criar conexões.

A pintura é, para mim, mais do que uma atividade: é uma necessidade vital. É por meio dela que me expresso, que transformo silêncio em linguagem, cor em emoção. Estou sempre pronto para novos desafios, novas paisagens, novos aprendizados. Porque enquanto houver algo a ser dito com um pincel, estarei aqui — pintando.

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