O Equilíbrio e o Desequilibrado

Por muito tempo, carreguei uma inquietação silenciosa: por que gosto de fazer tantas coisas? Em um mundo que parece nos cobrar foco, linearidade e especialização, eu me via disperso — ou, ao menos, era assim que me sentia. Sou formado em música, cursei TI, sou Luthier, trabalho com televisão, tenho uma banda, estudo Artes Visuais, pinto, fotografo. Em momentos de dúvida, me perguntava: será que estou me perdendo? Ou será que, na verdade, estou me encontrando?

Durante anos, busquei o tal do equilíbrio. Essa palavra que ecoa como promessa de paz, mas que, para mim, soava como cobrança. Achava que, talvez, equilíbrio fosse escolher uma única estrada e seguir por ela com convicção. E então eu via as outras possibilidades se afastando pelo retrovisor, e sentia saudade antes mesmo de desistir.

Mas com o tempo — e com a arte — fui percebendo algo maior. A pintura, em especial, me trouxe um novo olhar sobre o mundo. Um olhar que não se contenta com o óbvio, que investiga a luz, a sombra, as texturas escondidas. Ver o mundo além do que se vê: isso se tornou meu verdadeiro desejo. E, ao enxergar o mundo com mais camadas, comecei também a me enxergar com mais generosidade.

Hoje entendo que talvez o equilíbrio não esteja em fazer menos, mas sim em acolher quem somos por inteiro. Não sou menos comprometido por ter múltiplos interesses. Sou múltiplo. E isso, ao contrário do que pensei por muito tempo, não é uma fraqueza — é uma força criativa.

Descobri que não preciso “dar conta” de tudo. Que posso abraçar meus muitos caminhos, mesmo que eles não formem uma linha reta. Ser músico, artista plástico, técnico, criador, curioso. Ser inquieto e, ainda assim, centrado. Porque o centro não precisa ser fixo. Às vezes, o centro é o movimento.

Talvez eu não seja um desequilibrado. Ou talvez seja, mas no melhor sentido possível. Gosto de pensar que sou como os equilibristas — aqueles que caminham na corda bamba com graça, risco e alegria. Eles não têm os dois pés no chão, mas têm presença. Estão inteiros em tudo o que fazem. E isso, para mim, é a mais bela forma de equilíbrio.

Na corda bamba da vida, é onde escolhi estar. Caminhando com coragem, inventando o próximo passo, admirando a vista ao redor. Olhar para trás? Não me interessa. Olhar para baixo? Nem pensar. Porque é lá na frente, onde os olhos brilham de medo e de vontade, que estão as coisas mais belas.

E se um dia alguém me perguntar o que escolhi ser, direi com orgulho: escolhi ser eu. Em todas as minhas partes. Preferi o caminho dos equilibristas.

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